"Nunca se deve brincar com o desconhecido, principalmente com o sobrenatural.
É sabido desde a antiguidade da existência de rituais sagrados, os quais invocam criaturas do além e de outras dimensões.
A pronúncia de palavras erradas em locais inoportunos, em conjunto com oferendas pagãs, pode provocar a abertura de portas ocultas e até então trancadas, permitindo com isso a entrada em nosso mundo de algo que ninguém desejaria ver, nem mesmo nos piores pesadelos!"
O Relato a seguir é justamento sobre esse tipo de atividade!
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Antes de tudo eu gostaria de escrever um pouco sobre mim (é eu sei que é um
saco você ter que ler isso, mas eu vou fazer mesmo assim).
O meu nome é Samanta,
eu moro em São Paulo e tenho 17 anos (neste ano de 2004).
Tenho duas amigas que são inseparáveis,
Tamara e Juliana.
As duas moram no mesmo prédio que eu, tem a mesma idade que eu (a Tamara é duas semanas mais nova e a Juliana é um
mês mais velha) e as duas estão no mesmo colégio que eu, na mesma classe (a
gente ficou enchendo os nossos pais para eles colocarem a gente no mesmo
colégio).
Nós somos amigas desde que éramos bem novas (nos conhecemos no prédio
onde moramos), acho que desde os 6 ou 7 anos.
É uma amizade bem forte a que
temos.
A mais ou menos 5 anos, nos interessamos pelo oculto, sabe como é, algumas
garotinhas de 12 anos entediadas e sem nada para fazer.
Começamos com coisas
bobas, brincadeira do copo, brincadeiras com espelhos e velas em quartos
escuros, ficar no escuro absoluto e falar algumas coisas, enfim, coisas bem
leves.
Era o nosso mundinho secreto. Ninguém de fora da nossa pequena roda sabia
o que fazíamos e assim nos sentíamos especiais.
O tempo foi passando e fomos nos
aprofundando no oculto, mas sem centralizar em algo, vendo um pouco de tudo.
Víamos coisas de *Wicca, satanismo, espiritismo, o que tivesse algo de sombrio e
oculto, interessava a gente.
A Internet sempre ajudou muito, trazendo muita
coisa que não achávamos em lugares de fácil acesso (você não encontra literatura
de como invocar espíritos ou fazer poções na Saraiva).
Nunca nos focalizamos em
algo específico, o oculto era a nossa crença, tudo o que fazia parte dele.
*[Wicca é uma religião neopagã influenciada por crenças pré-cristãs e práticas da Europa ocidental que afirma a existência do poder sobrenatural (como a magia) e os princípios físicos e espirituais masculinos e femininos que interagem com a natureza, e que celebra os ciclos da vida e os festivais sazonais, conhecidos como Sabbats, os quais ocorrem, normalmente, oito vezes por ano].
Até hoje lembro do nosso primeiro "ritual sério" que fizemos.
Trajes
apropriados, adagas, pequenos cortes nas mãos, sangue, fogo, palavras estranhas
a serem ditas, poções a serem bebidas.
Foi tudo muito mágico, especial.
Não
aconteceu nada do que esperávamos que aconteceria, para falar a verdade não
aconteceu nada de nada mesmo.
Foi algo mais psicológico, do que real.
A gente
sabia que não tinha acontecido nada, mas a gente sentia que depois daquilo tudo
a gente já não era mais três menininhas brincando de bruxaria. Foi uma espécie
de uma festa de debutante, simplesmente não éramos mais as mesmas.
Depois daquele ritual, começamos a fazer outros.
Seguíamos datas específicas e
certas fases da Lua ou posição do Sol para alguns, outros fazíamos quando
tínhamos vontade, alguns até inventamos, apenas seguindo o que parecia ser o
certo a fazer. O importante mesmo era que fizéssemos tudo juntas.
Com o tempo os rituais se tornaram normais em nossas vidas, e acabamos
criando a nossa própria religião, que era como uma colcha de retalhos de várias
religiões, abrangendo tudo o que fizesse parte do oculto, e o que parecesse
certo para nós.
Certa noite eu tive um sonho. Eu sonhava que estava em uma floresta densa, cheia
de árvores.
Era noite e eu estava perdida nela.
Depois de vagar por algum tempo
na escuridão eu consegui ver uma clareira com uma fogueira, e fui naquela
direção.
Quando cheguei lá, tinha o que parecia ser um homem, embaixo de um tipo
de cobertor.
Ele estava sentado de costas para mim, de frente para o fogo.
Apesar do barulho da floresta, eu conseguia ouvir a respiração pesada dele.
Eu
tentei me aproximar dele, mas não conseguia me mexer.
Então ele se levantou,
ainda coberto pela manta.
Ele era enorme, tinha fácil mais de dois metros.
Então, do nada, o fogo apagou.
A floresta tinha mergulhado no breu de novo.
Então a respiração daquele ser começou a ficar mais forte.
Pelo barulho deu para
perceber que ele estava se aproximando.
Eu não conseguia me mexer. Estava
assustada, mas não sentia que corria perigo.
Quando ele estava ao que parecia
ser três passos de mim, ele começou andar para o meu lado, me contornando.
Ele
parou quando ficou atrás de mim, a uns dois passos.
A única coisa que eu ouvia
era aquela respiração forte agora.
Parecia quase um cavalo respirando depois de
uma corrida.
Então ele foi se aproximando, e chegou tão perto que eu podia
sentir a respiração dele na minha nuca. Depois disso eu acordei.
Aquele sonho ficou na minha cabeça, eu não conseguia parar de pensar nele.
Será
que tinha sido alguma entidade que me visitou durante o sono? parecia tão real!
Aquela noite tinha sido numa quarta-feira.
Na sexta-feira a Juliana perguntou se
queríamos ir para o sítio que a família dela tem no interior de São Paulo.
Por
falta de algo melhor para fazer acabamos indo para lá mesmo.
Não ia mais ninguém
além da gente e do irmão mais velho da Ju (que por acaso é quem levaria a gente
para lá).
Então preparamos as nossas malas, não esquecendo as nossas velas,
cristais, adagas e coisas do gênero, e fomos para lá.
Chegamos lá na Sexta a noite. Nós quatro ficamos lá conversando e jogando
conversa fora numa boa.
Depois de um bom tempo fomos dormir.
O dia seguinte foi
uma beleza, sol o dia todo, piscina, um macarrão vegetariano bem levinho no
almoço, um pouco de bronzeamento a tarde, uma maravilha só. Mas quando o Sol
começou a se por, um monte de nuvens começou a juntar.
Fomos tomar banho e preparar algo para jantar.
Quando eu sai do banho a Juliana
falou que seria só nós três durante a noite, pois o irmão dela tinha saído para a
cidade para curtir o final de semana do jeito dele.
Era justamente o que
queríamos. Um tempo só para nós, garotas, para falarmos e fazer o que
quiséssemos.
Depois do jantar ficamos na varanda da casa conversando.
Então a Tamara deu um
pulo de repente e falou "Vamos fazer um ritual na floresta!"
A Ju perguntou,
ritual de quê, não era data de nada, então ela falou "A gente faz uma data para
hoje!
A gente inventa uma celebração qualquer!"
A idéia me agradou muito, e como
nunca tínhamos feito nada ao ar livre junto da natureza, sugeri que fôssemos
para um amontoado de árvores que tinha lá do lado. Todas concordamos e fomos
correndo pegar o nosso material.
Nos preparamos e fomos felizes da vida para o meio da floresta que tinha lá do
lado.
Estávamos indo descalças, podíamos sentir a grama verde com os pés, uma
brisa fraca batendo de leve na gente, ouvíamos os sons de grilos e outros
bichinhos pelo mato.
Não sei o que era, se era o ambiente, se era algo
psicológico, mas aquele era um momento mágico.
Estávamos nos sentindo
diferentes, nos sentíamos parte da natureza.
Apesar da noite totalmente escura (além de ser lua nova - totalmente escura - as
nuvens que tinham se acumulado encobriam a luz das estrelas), não estávamos
preocupadas de entrar na floresta. Estávamos com uma lanterna e achamos fácil um
lugar adequado.
Então, começamos o ritual. Tinha um que eu tinha pegado na Internet e queria
fazer a algum tempo, que era perfeito para a ocasião.
Tudo o que precisávamos
estava lá. Improvisamos algumas tochas com pedaços de pano, cheios de álcool,
enrolados em galhos, e prendemos nas árvores ao redor da área para poder
produzir alguma luminosidade não artificial (claro que tomando o máximo de
cuidado para não botar fogo no lugar:p).
Limpamos a área e fizemos alguns
símbolos e desenhos no chão com as adagas.
Colocamos nossos adornos
ritualísticos e começamos a posicionar as velas (que por acaso nós mesmo
fazíamos) em seus respectivos lugares.
Colocamos mais algumas em volta do
círculo central e apagamos as tochas (a luminosidade que as velas produziam era
o suficiente para nós agora).
Fizemos um pequeno fogareiro dentro do círculo
central e colocamos uma cumbuca de bronze em cima dele.
Nos posicionamos em
volta do fogareiro e colocamos algumas coisas na cumbuca enquanto falávamos o
que tinha que ser dito.
Após algum tempo tiramos o líquido que tínhamos feito de
dentro da cumbuca e colocamos em um cálice de cristal, e colocamos a cumbuca no
lugar de novo.
Cada uma de nós tomou um pouco do que tinha dentro do cálice,
deixando propositalmente um resto dentro dele.
Depois colocamos esse resto que
tinha sobrado de novo na cumbuca de bronze que estava no fogareiro e falamos
mais algumas coisas.
Nesse momento já estávamos sentido uma coisa estranha
dentro da gente, não estávamos passando mal, só sentíamos algo estranho.
Então foi como se tivéssemos entrado em um transe.
Ficamos com o olhar meio
vidrado balançando a cabeça bem de leve para frente e para trás, e foi aí que
uma coisa inacreditável aconteceu. As velas começaram a queimar muito rápido,
como se estivessem em um filme que você adianta.
A gente só via a cera
derretendo e escorrendo e o barbante pegando fogo.
Depois de alguns segundos, as
velas se consumiram completamente, e apagaram.
A escuridão voltou com tudo, uma
escuridão absoluta.
E então eu ouvi um som que eu já tinha ouvido antes, nos
meus sonhos.
O som daquela respiração pesada. Estava vindo bem do meio do
círculo que tínhamos feito, bem do meio da gente.
Nós estávamos ajoelhadas de
mãos dadas, fazendo um círculo com os nossos braços.
Eu senti a mão da Tãma e da
Ju se afrouxarem um pouco, como se quisessem soltar a minha, mas eu segurei as
mãos delas mais forte, para que não se soltassem.
Aquela respiração estava
ficando cada vez mais forte, parecia se mover dentro do nosso pequeno círculo,
mas nada encostava nos nossos braços.
Eu estava assustada, mas não com medo.
Não
sabia o que era aquilo ou o que estava acontecendo.
Então senti uma baforada na
minha cara. Era quente, mas não tinha cheiro nenhum. E foi aí que eu fraquejei.
Eu soltei um grito, levantei e soltei a mão da Tãma e da Ju me virei e saí
correndo.
Eu percebi que as duas fizeram a mesma coisa.
Chegamos rápido na casa,
e assim que entramos fechamos a porta e acendemos todas as luzes.
Tínhamos
deixado todas as nossas coisas para trás, mas não tínhamos a mínima intenção de
voltar.
Estávamos em completo êxtase. "Você viu aquilo?" "O que foi que acabou
de acontecer ali?" "Será que ta vindo pra cá?"
"Não sei, não estou vendo nada,
mas eu não vou lá fora ver se tem alguma coisa lá ainda!"
Nós estávamos
totalmente eufóricas, completamente assustadas, mas eufóricas.
Nunca tinha
acontecido nada de mais nos nossos rituais.
Se acontecia alguma coisa, sempre
tinha uma explicação lógica por trás, mas não dessa vez.
Nós tínhamos
presenciado algo e não tínhamos idéia do que era.
Naquela noite não conseguimos dormir, ninguém ousava fechar o olho ou ficar no
escuro.
Não ouvimos nenhum barulho estranho vindo lá de fora, nenhum vulto
escuro andando pela floresta, nada, mas estávamos bem assustadas.
Ficamos
acordadas até o irmão da Ju chegar de manhã.
Então desabamos. Dormimos na sala
onde tinha bastante luz. Acordamos um pouco depois do meio dia.
Como não poderíamos mais adiar aquilo, juntamos coragem e fomos até o lugar onde
tínhamos feito o nosso ritual na noite passada.
Estava tudo normal. As coisas
estavam exatamente onde tínhamos deixado, as adagas fincadas no chão, as linhas
dos desenhos e dos símbolos intocadas, as velas completamente derretidas, e o
fogareiro ainda com madeira sem queimar, com a cumbuca de bronze ainda com o
resto do líquido. Nós juntamos nossas coisas e fomos embora, dando uma benção
final no lugar. Naquela tarde fomos embora.
Até hoje não sei o que foi que aconteceu.
Até pensei que podíamos ter feito
alguma bebida alucinógena naquele dia, e o que vimos e sentimos era só um
resultado dos efeitos da bebida.
Para ter certeza, nós fizemos a bebida de novo,
mas sem fazer o resto do ritual, só a bebida e demos para a Tãma beber.
O tempo
passou e nada. Ela não sentiu nada e não viu nada. depois disso nos convencemos
de que realmente aconteceu alguma coisa.
Eu deixei aquele ritual (as "instruções") separado, bem guardado e marcado, para
quando tivermos mais experiência no assunto, afinal isso é uma coisa com que não
se brinca, ainda mais quando da certo.
Mas será que foi o ritual que funcionou mesmo?
Ou era alguma entidade da
floresta, alguma protetor ou coisa parecida, que atendeu o nosso chamado? Até
hoje eu imagino se o que aconteceu tem alguma ligação com o meu sonho.
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Samanta - São Paulo - SP - Brasil
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